O objetivo deste trabalho foi descrever a incidência do stress em recrutadores dentro das Agências de Emprego na cidade de Curitiba.
INTRODUÇÃO
O tema de maior importância nesta pesquisa é o stress em recrutadores no trabalho de recrutamento e seleção de pessoal dentro das Agências de Emprego. Dentro dessas agências o stress é visível, pois o recrutador trabalha com grande número diversificado de vagas, além de atender diferentes clientes. Chamamos de clientes, as empresas que solicitam nossos serviços de recrutamento e seleção de pessoal, para o preenchimento destas vagas. As vagas são de vários níveis, sendo da área operacional até níveis de gestão, como, por exemplo, Auxiliar de Produção, Auxiliar Administrativo e até mesmo de Gerente Operacional de uma grande empresa.
Quando as vagas trabalhadas são em grande volume, como as operacionais, o recrutador tem sempre um curto período para recrutar e selecionar candidatos, pois, para todos os clientes, a vaga é urgente e deve ser fechada em pouco tempo. As operacionais, sempre devem ser fechadas em um prazo de no máximo uma semana, independente de quantas serão, dez, quinze ou até mais.
Face a esta situação, o recrutador recebe uma carga volumosa de solicitações de clientes, sendo que, para todos, o preenchimento dessas vagas é sempre urgente, o mesmo sente-se pressionado a correr em várias direções para atende-los. Iniciando-se assim o stress do recrutador.
Existem milhares de pessoas desempregadas no Brasil em busca de um emprego ou uma recolocação no mercado de trabalho. Pessoas estas com experiência em determinadas áreas, outras com pouca experiência e muitas em busca do primeiro emprego. Existem também as pessoas que não estão satisfeitas com seu trabalho atual e buscam novas oportunidades em boas empresas, além do reconhecimento que não obtém na atualidade.
O mercado está a procura destes profissionais, qualificados ou não, para ampliarem seus quadros dentro das empresas. Nesta busca, oferecem treinamento para os novos funcionários, salários adequados à função, benefícios, enfim, todos os direitos e algo mais para chamar a atenção destas pessoas. Afinal, estão vendendo suas imagens para conseguirem agregar bons profissionais que trarão lucro e benefício para a empresa.
Apesar da maioria das empresas possuírem um setor de Recursos Humanos com profissionais qualificados, acabam solicitando os serviços de Agências de Empregos que possuem recursos diferenciados para buscar profissionais, tanto desempregados, quanto profissionais já atuantes dentro de grandes empresas.
Em alguns casos, a Agência de Emprego pode auxiliar fazendo o trabalho operacional, como é o caso da terceirização de pessoas. Seria um meio das empresas terem mais tempo para dar prioridade aos treinamentos e desenvolvimento de seus funcionários, selecionando apenas os melhores candidatos encaminhados através dos serviços destas empresas terceirizadas. Elas oferecem serviços tanto de recrutamento e seleção de pessoal, quanto pesquisa de cargos e salários, pesquisa de clima organizacional, terceirização de mão de obra, entre outros.
As Agências desejam parcerias com grandes empresas a fim de proporcionar-lhes uma visão inovadora além da qualidade nos processos solicitados por estas empresas, chamadas assim de “empresas-cliente”.
Hoje o profissional de recursos humanos – recrutador – é levado a interagir com o cliente para entender a complexidade da vaga, do contrário o recrutador não terá condições de assessorar corretamente seu cliente.
Selecionar pessoas não é uma tarefa fácil. Selecionar pessoas é comparar seres completamente desiguais. Para tal, o recrutador deve cercar-se de cuidados, para diminuir a subjetividade na hora da comparação, para cada vaga em aberto que o mesmo trabalha, produzindo um nível de stress sobre suas atividades do dia a dia, devido à quantidade de vagas que possui em um mesmo período.
O profissional de recursos humanos deve dispor de um conjunto de elementos a fim de tornar cada processo menos subjetivo e mais pragmático. Estes cuidados passam por:
• Ter a descrição do cargo da vaga em aberto;
• Conhecer os pré-requisitos da vaga em aberto;
• Conhecer os principais desafios esperados pela área solicitante;
• Ter a percepção correta do perfil comportamental esperado/desejado;
• Conhecer a cultura, os valores e os princípios, não só da empresa, mas da área, bem como da equipe da vaga em aberto;
• Conhecer (e entender) a missão, a visão, os objetivos estratégicos, os princípios da empresa para não contratar “um estranho no ninho”;
• Buscar sempre a participação do solicitante da vaga. Sem esta participação o processo seletivo ficará comprometido; e
• Saber sugerir e apresentar ao contratante as observações e orientações sobre os melhores profissionais encontrados para a vaga.
PARTICIPANTES
A pesquisa foi realizada em quatro Agências de Empregos localizadas na cidade de Curitiba, com 20 recrutadores ao todo, com escolaridade superior completa ou cursando nos cursos de Psicologia, Administração e Gestão de Pessoas. O público pesquisado é do sexo feminino, com idades variando entre 22 e 33 anos.
Foram aplicados questionários de questões fechadas em agências de emprego onde se encontra o público a ser estudado, que seriam recrutadores, no tema proposto, além do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP, para avaliar mais especificamente o nível do stress entre recrutadores.
INSTRUMENTOS
Trata-se de um estudo quantitativo, realizado através de um questionário fechado contendo 10 questões de múltipla escolha, a respeito do cotidiano dos recrutadores dentro das Agências de Emprego, e a aplicação do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de LIPP, para avaliar mais especificamente o nível de stress entre os recrutadores e identificar a fase em que ela se encontra (alerta, resistência ou exaustão).
No questionário apareceram dados relevantes que evidenciam o stress dos recrutadores dentro das Agências de Emprego, como, por exemplo, “O que tira do sério um recrutador dentro do ambiente de trabalho?” que seria “O não comparecimento dos candidatos nas entrevistas agendadas”, com 75% de concordância entre os recrutadores. Toma-se como outro exemplo a questão: “Como o recrutador se sente quando é pressionado pelo seu superior?”. Dentre as respostas dadas a esta questão, 80% dos recrutadores afirmaram como resposta: “A vontade de abandonar suas atividades e deixá-lo na mão, pois este não imagina o grau de seu esforço”. Nestas questões, os agentes estressores são os candidatos que não comparecem nas entrevistas e a pressão em cima do recrutador do próprio supervisor. Há também a pressão que vem da parte do cliente, que quer as suas vagas fechadas no prazo combinado com o recrutador, que, apesar de ter estas vagas em aberto, possui muitas mais no mesmo período.
Podemos citar outros exemplos do questionário aplicado no que se refere aos agentes estressores de cada situação. Por exemplo, a questão: “Quando lhe é solicitado à abertura de uma vaga com um elevado grau de dificuldade do perfil, como por exemplo, cargos de nomenclatura desconhecida para você, como procede?” Com 65%, a resposta foi: “Entrar em contato com o requisitante da vaga e buscar mais informações sobre as atividades a serem desenvolvidas.” Neste caso, imaginem o recrutador entrando em contato com todos os seus clientes, além de executar o processo de recrutamento e seleção, para tirar dúvidas sobre os perfis solicitados. Muitas vezes, é solicitado ao recrutador que faça uma visita na empresa para ter uma noção mais ampla das atividades deste futuro funcionário. Este deve encontrar tempo também para estas ocasiões.
O recrutador não é simplesmente aquele que recruta e seleciona candidatos para determinada vaga, mas sim aquele que faz o processo mais completo que se pode imaginar. Abre a vaga com o requisitante, entende o perfil da vaga, visita a empresa caso haja necessidade, seleciona currículos, marca entrevistas, aplica testes e dinâmicas de grupo, faz laudos e pareceres dos testes e entrevistas de cada candidato que irá encaminhar ao cliente e ainda acompanha este candidato durante um período para ver se está adaptando-se com a nova empresa. O acompanhamento do processo é contínuo, como podemos ver no próximo exemplo retirado do questionário: “Quando você considera que o processo de recrutamento chegou ao fim?” 60% dos entrevistados responderam: “O processo é contínuo, dando sempre um acompanhamento do candidato enquanto exerce suas funções no cliente.” Isso demonstra o quão complexo um processo de seleção é, ficando evidente que não há como não ficar ansioso ou stressado durante cada processo que está se desenvolvendo. Quando falamos em ansiedade, é na questão de se o cliente estará realmente satisfeito com os candidatos apresentados e se o recrutador deverá iniciar um outro processo caso não haja esta satisfação.
Porém, referente ao “prazer na área de atuação dos recrutadores”, 90% “sentem prazer quando uma vaga complexa é fechada e o candidato selecionado destaca-se entre todos os seus colegas atuais da área, na empresa em questão”.
DISCUSSÃO
Ao observar os resultados das pesquisas realizadas, percebe-se que 80% dos recrutadores que atuam em Agências de Emprego, possuem stress, sendo que 50% estão em fase de resistência. Segundo os estudos de Selye (1965) esta fase caracteriza-se por uma tentativa de recuperação do organismo após o desequilíbrio sofrido na fase anterior – fase de alerta. Nesse momento ocorre gasto de energia podendo ocasionar cansaço excessivo, problemas de memória e dúvidas quanto a si próprio (Lipp & Malagris, 2001). A pesquisa mostra também que 60% dos recrutadores apresentam sintomas físicos quanto ao stress, que, segundo LIPP (2000), pode haver como conseqüências gastrite, problemas de pele, hipertensão arterial, além de poder acarretar o envelhecimento precoce. Conforme a autora, estes sintomas são reversíveis e a pessoa pode ficar inteiramente boa se não chegar na última fase do stress, conhecida como exaustão.
Em relação ao questionário aplicado referente ao cotidiano dos recrutadores, os resultados mostraram que 75% dos recrutadores saem do sério quando os candidatos agendados para participarem de entrevistas não comparecem no horário marcado. Já 80% dos recrutadores afirmaram que após serem pressionados pelo seu superior, sentem vontade de abandonar suas atividades, pois seu superior não imagina o grau de seus esforços. Conforme CHIAVENATO (2004), o autoritarismo do chefe, a desconfiança, a pressão das exigências e cobranças e o cumprimento do horário de trabalho são fatores visíveis de stress dentro das organizações. Porém, os dados mostram que 90% dos recrutadores sentem prazer quando uma vaga complexa é fechada e o candidato selecionado destaca-se entre todos os seus colegas atuais da área, na empresa em questão. Na vida diária dos profissionais, a sobrecarga de stress é aceita como rotina. Alguns acreditam inclusive que desempenham melhor suas atividades quando a situação é de crise (ROSSI, 1991). A autora afirma ainda que é impossível viver sem stress, mas muito dele pode nos causar danos físicos e emocionais irreparáveis.
CONCLUSÃO
O papel do recrutador dentro das Agências de Emprego é muito importante, pois cabe a ele cuidar da seleção de bons profissionais para seus clientes. Ter nas mãos a dura tarefa de decidir sobre a vida profissional de uma pessoa requer, além de preparo profissional, maturidade, sensibilidade e coragem, para entender os anseios e o posicionamento do indivíduo frente ao mercado de trabalho e tomar a decisão correta.
Os dados levantados através dos questionários e o Inventário de LIPP, evidenciam que os recrutadores em Agências de Emprego apresentam nível de stress significativo. Em conversas paralelas com os recrutadores, comentaram que não imaginam-se trabalhando em outro segmento, devido a instabilidade cotidiana dentro das Agências de Emprego. A cada dia o recrutador entrevista pessoas de diferentes culturas, níveis e áreas de trabalho. A cada dia aprende novas funções de cargos que estão no mercado de trabalho. Concordam que o stress está presente e que pode fazer-lhes mal. Afinal, as causas do stress não são consideradas agradáveis para quem as possui. Para isso, cada profissional da área de recrutamento e seleção, deve aprender a controlar o stress atribuído em seu ambiente de trabalho de várias maneiras, conforme sugere LIPP (2000):
Relaxamento: quando estamos tensos, precisamos de alguns momentos de descanso, a fim de nos recuperarmos do stress do dia. Este relaxamento pode ser em forma de exercícios de respiração profunda, yoga, relaxamento muscular, música, filmes, bate papo ou leitura. O relaxamento ajuda a se eliminar o excesso de adrenalina produzida e restabelece a homeostase interna do organismo.
Exercício físico: quando exercitamos por 30 minutos ou mais, nosso corpo produz uma substância chamada “beta endorfina” que produz uma sensação de tranqüilidade e de bom estar. Quando se está atravessando momentos difíceis, o exercício físico, seja ele qual for, nos ajuda a atingir uma sensação de bem estar e calma.
Estabilidade emocional: É importante manter uma atitude positiva perante a vida, procurando sempre ver o lado bom das coisas. Deve-se levar alguns momentos para refletir nas nossas prioridades, naquilo que queremos alcançar de fato na vida. Muitas vezes nos perdemos em detalhes sem importância deixando de lado coisas realmente relevantes. Controlar a pressa, a corrida contra o relógio, também é importante, além disto, se recomenda que a pessoa passe a curtir o processo do “ser”, do “existir” em si, em vez de só se preocupar com o “fazer”. É bom lembrar que não se pode ser sempre amado e admirado por todos.
Qualidade de vida: qualidade de vida significa muito mais do que apenas viver, pois muitas pessoas, mesmo as ricas e bem sucedidas no trabalho, às vezes tem uma qualidade de vida péssima. Por qualidade de vida entendemos o viver que é bom e compensador em pelo menos quatro áreas: social, afetiva, profissional e a que se refere à saúde. O viver bem refere-se a ter uma vida bem equilibrada em todas estas áreas. Uma das maneiras de se conseguir uma boa qualidade de vida é através do controle adequado do stress emocional.
Conforme sugere a autora, se cada indivíduo seguisse suas recomendações, certamente o nível de stress, não apenas em Agências de Emprego, mas sim em todas as áreas, diminuiria significativamente, levando os indivíduos a terem uma vida mais saudável e prazerosa.
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