quinta-feira, 21 de outubro de 2010

LIÇÕES DE RH E ADMINISTRAÇÃO COM DUNGA - UMA REFLEXÃO (ARTIGO)

Lições de RH e Administração com Dunga - uma reflexão

Nesse artigo é feita uma breve comparação entre as ações e decisões de Dunga, técnico da seleção brasileira de futebol e suas proximidades com conceitos e práticas de Administração e da Gestão de Pessoas.
Adm. Janaína Siegler, é mestre em Administração pela USP, empresária, consultora empresarial e professora. Atualmente coordena o curso de Administração da Uniube, campus Uberlândia, é delegada do CRA-MG e membro do Conselho da Mulher Empresária (CME) da ACIUB. janaina.siegler@uniube.br

Na última terça-feira, dia 10 de Maio, o técnico da seleção brasileira de futebol, Dunga, divulgou aqueles jogadores que ele escolheu para fazer parte de seu time.

Vamos analisar um pouco melhor este contexto para que possamos avaliar a profundidade das lições de Administração que podem ser tiradas a partir dessa situação, especialmente ligadas aos processos de gestão de pessoas.

Foram quase 4 anos, muitas dúvidas, ainda mais críticas, 85 atletas testados em diversos jogos, algumas vitórias e títulos importantes e enfim, 23 convocados e 7 na lista de espera.

Na entrevista coletiva, dada logo após a divulgação dos convocados para compor a seleção brasileira que disputará a copa do mundo de 2010 na África do Sul, Dunga deu sua primeira grande lição de Administração: a importância do planejamento. Ele citou a reunião que teve com o presidente da CBF em 2006, que o convidou ao desafio de fazer uma renovação, uma série de reestruturações no time, em virtude da campanha desastrosa que havia sido feita na então recém-terminada copa do mundo de 2006, onde o Brasil contava com um time de várias estrelas individualmente campeãs. O próprio Dunga afirmou que o mais importante dessa reunião foi a confirmação da autonomia e do apoio que ele receberia em sua tomada de decisões, atuais e futuras, para que ele pudesse então formar sua equipe técnica.

Sabem quais os critérios, definidos nessa reunião de 2006 e praticados na convocação de ontem? Palavras do próprio Dunga: “comprometimento, atitude, jogadores chamando a responsabilidade para si, paixão, emoção de jogar na seleção brasileira, realização do sonho de cada um de vestir essa camisa, saber da responsabilidade, saber do desgaste, do percurso, da cobrança e que cada um deve estar disposto a se doar para a seleção brasileira”.

Qual administrador, líder, empresário não busca isso também em seu “time”?

Ele ainda completou na entrevista dizendo que parte do seu grande objetivo já estava concretizado, uma vez que hoje voltou a ser extremamente valorizado o fato de se jogar na seleção, posição que tinha ficado um pouco desgastada nas últimas copas do mundo.

Não sou defensora dessa ou outras escolhas de nomes pelo técnico da nossa seleção, mas não posso deixar de exprimir minha admiração pela coerência fundamentada nas decisões de Dunga. Ele demonstrou a convicção e segurança que nós como administradores e professores nos esforçamos para ter e conseguir formar em nossos alunos.

Ele deixou claro desde o início quais eram seus objetivos, seus critérios e suas exigências, ele buscava pessoas que “estivessem preparadas para se doar à seleção, que estivessem dispostas a colocar seu talento à disposição da seleção brasileira”, ele queria pessoas que “estivessem preparadas para jogar 5 minutos, 10 minutos, 90 minutos ou às vezes nem jogar, mas que estivessem preparadas”, citou o fato que muitos aproveitaram a chance, ao passo que outros tiveram oportunidade em vários jogos e por motivos diversos, seja físico ou emocional não corresponderam às expectativas.

Sabe o que ele deixou claro com essas colocações? Que numa seleção de futebol (assim como em qualquer organização) é muito importante ter claro qual é seu objetivo (leia-se missão, visão e valores - planejamento estratégico) e focar no resultado.

Dunga acredita ter formado uma equipe de vencedores, preparados para vencer mais uma etapa. Se irão efetivamente ganhar ou não essa copa, ele não pode afirmar, mas ele tem certeza de que estão preparados e vão buscar seu objetivo e, que antes de tudo, foi fortalecido dentro da seleção um sentimento de patriotismo (que ele diz ter aprendido com sua mãe que foi professora de história e geografia), de torcer, vibrar e se doar por seu país, onde o interesse coletivo sobrepõe aos interesses individuais, mais uma lição de Administração e liderança.

Ele disse não querer a unanimidade, mas espera que mesmo aqueles que não gostem dele ou de qualquer de suas escolhas, que goste, acredite e torça pelo Brasil, pois eles vão se doar e fazer o máximo possível pelo nosso país. Como líderes em nossas organizações, nós também buscamos isso.

Quando estudamos estilos de liderança, teorias de motivação e seus impactos na formação das equipes e dos comportamentos e ações, estamos justamente analisando uma série de escolhas que fazemos em nosso dia-a-dia organizacional e de que forma elas podem (e vão) influenciar o resultado.

Não sei se intencionalmente ou não, mas Dunga provavelmente se fez questionamentos que nós da área de Administração, especialmente na gestão das pessoas, nos fazemos frequentemente: quem convocar? Quais talentos juntar? Como treinar e preparar a equipe? Como criar uma cultura de excelência? Como conduzir a equipe?

E ele ainda fez mais, inovou em seu processo de recrutamento e seleção. Já é prática corrente no mercado o fato que, normalmente as organizações contratam as pessoas por seu aspecto técnico, ligado ao seu currículo, sua formação, experiências e resultados do passado, e que muitas vezes, essas mesmas pessoas são posteriormente desligadas das organizações por seu aspecto comportamental... Sabe qual a grande lição de Dunga nesse quesito? Ele já “contratou” pelo aspecto comportamental das pessoas.... Tecnicamente eram todos muito bons, realmente dificultava a escolha, então ele usou o critério já estabelecido naquela reunião inicial de 2006, de valorizar aspectos intangíveis: a energia, o comprometimento, a alegria, a capacidade de fazer acontecer.

As organizações também precisam e anseiam por gente assim, com essa energia e essa capacidade de fazer acontecer. E você? Faz parte de qual time? Dos que lamentam e sentem-se injustiçados a cada momento ou daqueles que efetivamente contribuem para as coisas acontecerem e os resultados aparecerem? ? ? Pense nisso!

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